3 de outubro de 2006

Six Feet Under à Portuguesa



Circunstâncias infelizes fizeram com que tomasse conhecimento com o "modus operandi" da Servilusa, uma agência funerária que aglutinou a maior parte das agências tradicionais da nossa terra (incluindo a histórica agência Barata de Campo de Ourique).
Na época onde se tenta instituir o conceito de hiper da morte, com os produtos das exéquias à venda, alinhados cromaticamente por prateleiras, e onde o acto de morrer está cada vez mais distante e mais acolchoado por opções de consumo, a agência em questão aposta no profissionalismo e, para além de preços que arrasam a concorrência dos "irmãos Fisher" nacionais, disponibilizam serviços que primam pela eficácia e discrição, a saber:
Catering gratuito de bebidas quentes e de sopa;
Caixas de lenços espalhadas estrategicamente;
Equipa jovem que substituiu o fato com gravata preta, por um uniforme estilo empregado de hotel, com casaco, em tons cinza e com botões de metal até ao colarinho.
A morte é um acto silencioso e a função das agências é serem discretas e eficientes. Esta empresa vai mais longe, trata a morte como um pacote de agência de (DERRADEIRA) viagem. Não sei que outros serviços oferecem, mas imagino que até possam fazer vídeos e fotos a pedido. Não sei se diminuem a dor, não sei se conseguem passar à frente nos horários de marcação dos enterros nos cemitérios; Em suma, não sei se esta forma de despedida, antes do silêncio final, me agrada... Porém, reconheço que até a morte precisa de planeamento e as funerárias, enquanto prestadoras de serviços, são empresas que organizam eventos indesejados e tristes, porém incontornáveis.
Na tradição cristã, a morte é uma celebração, uma passagem para a vida eterna, em que se “descansará em paz”, num sono eterno – o que explica que o poeta Eugénio de Andrade tenha deixado instruções para ser enterrado de pijama.
Fico a pensar se os chás, os cafés, as sopas e os lenços nos ajudam, nos apaziguam as despedidas, ou nos “americanizam” ainda mais e nos distanciam do momento, com adereços convincentes!
Não resisti a visitar o site e após consulta dos serviços oferecidos, com ofertas promocionais de coroas grátis, não tenho dúvida que os Fisher portugueses têm mesmo os dias contados e que muito provavelmente irão chamar a Servilusa para os enterrar!

2 comentários:

Reinu disse...

A barata foi-se????
estou mortificado pe,a notícia. Sempre pensei levar uma vida de esbanjameento e ser enterrado pela Barata num paradoxo apaente, mas coerente com a chalaça que é a nossa vida.
Es de Champ D'Oréé??

Carla Ferreira de Castro disse...

Pois foi, finou-se a Barata, o nome ainda está lá (pequeno) mas o logo da Servilusa (cujo mote é "Consigo nos momentos difíceis)salta à vista. Antes do subúrbio fui de CO e ainda por lá pasto (mas não sou agarrada, ok?)Também eu ambicionava ser levada para os Prazeres pela Barata, mas agora já não sei se hei-de mandar servir cafés aos que me velarão, nem por que sopa optar (será que fazem consomé de pato?)