11 de dezembro de 2016

O Porto é uma cidade num país estrangeiro!




Isto, trocado por miúdos, é o mesmo que dizer que o Porto é uma nação!
Há umas largas semanas atrás, quando a hora ainda não tinha mudado, quebrei um jejum de 6 anos, não imposto, nem desejado, mas fruto das circunstâncias e dos caminhos por que a vida nos leva, e voltei ao Porto!
Foi a primeira vez que aterrei no aeroporto Francisco Sá Carneiro (a ironia de darem ao aeroporto o nome de um político que morreu, num desastre de avião, a caminho do Porto, ultrapassa-me, confesso) e apesar de não ter voado TAP - para grande pena minha que gosto do produto nacional, com os melhores comandantes e assistentes do universo (sim, sou suspeita, conheço alguns a quem tenho a honra de chamar amigos) - o voo Low Cost Ryanair (9.99€ cada viagem, mais low que o comboio, ou o carro) permitiu-me chegar ao Porto no sábado, às 8:30, e sair do Porto no domingo às 21:40! Passo a semana em autocarros, comboios, carros e vespa, por isso foi um alívio poder chegar num meio de transporte seguro e rápido e poder passar 37 horas no “estrangeiro”, perdendo apenas 2 horas em transportes.
A ideia deste regresso ao Porto surgiu em Julho, na sequência de um voucher de uma noite, oferecido pelas nossas filhas. Ao ver as ofertas no catálogo, houve uma que me chamou a atenção: a da Yours Guesthouse, mesmo ao pé dos Clérigos. Já tinha visto umas fotos, sigo-os no instagram, e tudo me dizia que seria a melhor opção. Apesar de já não aceitarem os ditos vouchers, os donos, pessoas afáveis, civilizadas e muito atenciosas sendo simultaneamente cool, o que é uma harmonia que muito prezo, já que muito afeto e cortesia também podem ser demasiado constrangedores para Mouros pouco habituados à hospitalidade nortenha, aceitaram a reserva e cederam-nos um dos seus estupendos 8 quartos, com terraço privado e vista maravilhosa.

Eis-nos, pois, chegados ao Porto, dia 29 de Outubro, com andantes a estrear, a caminho da Guesthouse. E que maravilha chegar e ser tudo como nas fotos e ainda mais, fruto de um Verão de São Martinho precoce que nos deu temperaturas de 27 graus, a condizer com um céu azul luminoso.
A primeira paragem na rota de fim de semana era a visita aos Miró. Tanto me queixei nas redes sociais que não podiam ir a leilão, tanto assinei petições, que era o mínimo a fazer; E com ou sem Miró, Serralves é sempre uma visita obrigatória, pela colecção, pelas exposições, mas também pelo oxigénio que se respira nos jardins.
E aqui abro novo parênteses para fazer promoção a outra empresa, não nacional, lamento, cujo marketing me permitiu viajar com muito conforto, num veículo de gama e cilindrada superior, conduzido impecavelmente pelo Sr. José. Graças ao código promocional de um amigo, a Cabify ofereceu-me 8€ na viagem o que me permitiu ir de motorista dos Aliados a Serralves a custo zero! (Se quiserem ter 8€, em Lisboa ou no Porto, instalem a app Cabify e coloquem o código CARLAC519 que usufruem desta quantia e oferecem-me, em simultâneo, 8€ de volta!).
10 da manhã… Bilheteira de Serralves para comprar bilhetes para a exposição, 11€ por pessoa, a não ser que tenham conta e cartão do BPI. Claro que tenho cartão do BPI e, às 10:10, dou comigo a pensar que esta visita ao Porto está a sair baratíssima. Depois da soberba visita à exposição, sobre a qual já tanto se escreveu com propriedade que apenas posso subscrever, depois de levantar o casaco deixado no guarda-roupa que funciona na capela, passeei nos maravilhosos jardins e trouxe de lembrança um ataque de alergias épico, mas a culpa é toda do Outono e da mudança da hora que me desordenam os chakras, ou o bioritmo ou “o raio que o parta que nunca mais chega o Verão!”, não do Jardim, nem da cidade!
O regresso foi a pé pois no Porto quase tudo está a 600 metros, mesmo que seja a 600 mts vezes 3 ou 4 vezes: No sábado andei 18,4 kms a pé e ainda bem que o fiz, pois pude digerir a sandes de pernil com queijo da serra da Casa Guedes (eu tenho uma filha que não come carne, por isso foi um momento de compensação) e, acima de tudo, pude perceber o quanto o Porto mudou; Mudou para o bem, com esplanadas, com limpeza, com preservação do património histórico e saudável convivência deste com a modernidade, mas também mudou para o menos bom, para quem lá vive, sem viver do turismo, pois tornou-se um destino muito apelativo para estrangeiros, com tuk-tuks e alguma gritaria e turbulência, decorrentes desse forte apelo turístico. Eu também estava de estrangeira, por isso achei tudo fantástico, até poder observar a pitoresca fila à porta da Lello, que vende mais bilhetes de entrada do que livros!
O fim de tarde de sábado estava reservado para assistir ao showcase do Samuel Úria na Fnac de Santa Catarina, grátis, of course, e até já começa a parecer mal! Não era especialmente fã do Samuel Úria mas depois de ouvir, ao vivo, a apresentação demorada (cantou bem mais do que a meia dezena de temas, habituais nestas promoções em Fnac) do Carga de Ombros, fiquei convertida e só posso recomendar que ouçam também!


A Título de balancete: à hora do jantar ainda só tinha gasto uns Euros numas águas, num éclair e café na Leitaria do Paço e na dita sandes de pernil, mais o cartão andante pelo que, à noite, seguindo a sugestão de uma amiga nativa, fui jantar ao Flow, na Cedofeita: Comida boa, não especialmente iluminada de transcendência celeste para as papilas gustativas, mas num espaço de excepção e com empregados afáveis. Sempre que vou ao Porto acho que as pessoas em geral e as que nos atendem, em particular, são mais normais, menos atacadas pelo vírus “ai eu sou chefe de sala/empregado num restaurante com pinta por isso posso ter um ar arrogante de quem é dono disto”. Em Lisboa só costumo encontrar este tipo de simpatia e cortesia sem preconceitos, na esfera de restaurantes com pinta, nos espaços do Avillez.A noite de sábado estava reservada para a Foz. De novo a pé, com passagem pelo Bom Sucesso e com a alegria de constatar que o Porto continua a ser uma cidade segura para deambular e que mantém um equilíbrio harmonioso entre o passado e o presente.
 
O Domingo foi consagrado à margem Sul, a uma visita demorada às caves Taylor’s e a uma incursão relâmpago nas Caves Ferreirinha. Sou adepta fervorosa dos tintos do Douro, talvez com a mesma intensidade que um adepto do Porto ama o seu clube, pelo que poderia passar vários dias a visitar e a conhecer a história de cada família. Escolhi a Taylor’s pois a história desta família Inglesa é fascinante, mas fiquei com pena de não ter tido tempo para conhecer igualmente as caves da Symington. Imbatível a prova de portos acompanhados de trufas e frutos secos, com vista deslumbrante para o Porto!
A tarde chegou depressa com um encontro com um amigo que não abraçava há mais de uma década e com uma ida à Casa da Música ouvir uma experiência a cargo dos Dias da Música Electroacústica, a convite do Professor de Análise e Composição Musical da filha que nunca provaria uma sandes de pernil, e com a participação da pianista Ana Telles, que por coincidência, é minha colega em Évora.
Depois da experiência inovadora e refrescante de estarmos numa bola de sons e imagens um novo carro da Cabify levou-me de regresso ao aeroporto, inteiramente grátis, uma vez mais, por causa dos códigos promocionais.
Como desabafo último deixo-vos uma confissão junto ao Douro:
Se eu tivesse nascido tripeira não saía da beira deste rio, deste vinho, deste Porto! Quero ser adoptada! Quero ser amiga do Rui Moreira! Quero ter primos, tios e sobrinhos no Porto! Quero ser do Boavista! Quero beber finos e cimbalinos!
Dear Porto, I’ll be back!