30 de novembro de 2016

Bionic Fashion: I am Titanium...



Recentemente foi-me diagnosticada uma calcificação nos ossos mais pequenos do corpo humano, situados nos ouvidos, designados por estribos, dado a semelhança com os acessórios para montar. Aparentemente, o estribo é um osso móvel que existe em cada ouvido para transportar as vibrações e os meus, por questões hereditárias, ao que me foi explicado, estão a ficar imóveis, pelo que já não permitem que ouça frequências mais baixas, como o bebé dos meus vizinhos de cima que, quando chora, é ouvido por todos, menos por mim (o que, convenhamos, não é necessariamente mau). Aprendi que a idade, e algumas doenças que, infelizmente, não escolhem idade, nos vão trazendo várias provações que nos levam a ter de reajustar as rotinas e as expectativas. Tenho como guia que apenas a falta de memória nos rouba a identidade, tudo resto é um puzzle em que, enquanto é permitido e aconselhado, se vão substituindo as peças, mas que estes sucedâneos artificiais não nos roubam o ser, nem nos definem! No caso da audição, a médio prazo, terei de comprar duas próteses ou substituir os meus estribos por uns de plástico (imprimidos, seguramente, numa qualquer impressora 3D) ou de titânio, opção que considero mais apetecível para poder ouvir a canção Bulletproof, da La Roux, e achar que foi criada a pensar em mim! (I am titanium…)
Como qualquer cidadão informado que se preze vim para casa googlar, não a otosclerose que me atribuíram, algo sobre um ossículo minúsculo e maçador, mas as próteses de plástico e titânio existentes no mercado e percebi que os estribos com melhor performance são os alemães (Deutsche Technologie para os ouvidos). Depois fiquei a pensar que seria melhor ser mulher biónica com alguma classe, que é algo que a idade precisa para distrair e disfarçar as imperfeições, e lembrei-me que o que queria mesmo era ter uns estribos em titânio da Hermès: sempre seria massa atómica made in France, por especialistas em moda equestre! E que bom seria se as próteses de pés pudessem ser desenhadas com a ajuda do Manolo Blahnik, ou do Christian Laboutin, que houvesse próteses Prada (em termos de marking a aliteração resultaria muito bem), implantes Michael Kors, Louis Vuitton, Armani, Burberry, Chanel, Marc Jacobs, Harry Winston, Tiffany ou Bulgary...
Por último, referir a suprema ironia da otosclerose (eufemismo para surdez) me forçar a aproximar mais de algo que toda a minha vida adulta me interessou e até estudo: O silêncio!