1 de dezembro de 2011

Natal, Memória e Identidade

É Natal! Com menos presentes, menos enfeites de Natal nas ruas, menos sorrisos, mais antevisões de um ano de permanente Quaresma e poucos adventos mas, ainda assim, o Natal está aí!
Hoje, dia em que os portugueses celebram a restauração da sua independência dos espanhóis, penso que outra dependência mais grave nos assola, a perpétua escravidão dos mercados, da economia e do dinheiro. Mas afirmar que não é Natal, pois não há dinheiro, é como contrariar tudo o que devemos dizer enquanto cristãos ou, para os que não o são, enquanto educadores sensatos: O Natal  é o reviver da nossa natividade, o renascer da capacidade de nos amarmos um pouco mais, para podermos assim amar mais os outros. Lembro-me sempre do Conto de Natal, do Charles Dickens, como a perspectiva pedagógica e correcta sobre o que o Natal deve despertar em cada um. Também sei que o Natal é quando um homem ou uma mulher quiserem mas andamos tão ocupados, com tantos afazeres, que facilita ter dias programados na agenda! Hoje, primeiro de Dezembro, a nossa família de quatro católicos -1 portuguesa e 3 portugueses e espanhóis – trouxe o Natal para dentro de casa!
Confesso que a ideia de ir buscar os enfeites, a árvore, as luzes me deixa exausta, mesmo antes de começar. Cheguei a pensar em seguir o exemplo do fado e ter enfeites imateriais… Mas depois de uma noite de sono tranquilo (e um pequeno-almoço de panquecas) atrevi-me a ir com a Catarina à arrecadação libertar o Natal!
Veio tudo e decidimos os enfeites a colocar, no momento da montagem. Optámos por uma decoração com muitas bolas do Jack, do Tim Burton, um clássico muito apreciado aqui em casa. No entanto, ano após ano, há decorações obrigatórias: O Presépio, oferecido pela minha mãe, que ocupa um lugar de destaque na nossa sala; o Menino Jesus que era do meu avô, que encontrei por acaso, quando o ano passado fui buscar uns móveis antes da casa ser vendida; a bola que a Catarina fez com 3 anos; o coração e a estrela que a Pilar fez com 5 anos; a caixa brilhante que a tia Rolinha nos ofereceu; o tubarão que estava na árvore do tio Vic e da tia Vitória, no primeiro Natal que as crianças lá foram a casa… e tantas outras peças insignificantes, algumas mesmo extemporâneas, mas que nos acordam para o espírito do Natal.
Aqui em casa gostamos do Natal, vivemos o advento, gostamos do ritual de acender as velas, gostamos de ir à missa do Galo e acreditar que o Menino Jesus nasceu, mas, mesmo para quem não acredita na tradição católica, o Natal é o tempo em que a identidade e a memória devem estar presentes em cada um de nós. Este ano tenho um cérebro cheio memórias de Natais passados que me devolvem a identidade e me vinculam aos afectos que contribuíram para que chegasse aqui, hoje, à celebração do meu 41º Natal! 
A família vai mudando, uns partem, outros chegam, mas tudo isso faz parte do Natal vivo, em permanente mutação. E, enquanto tivermos memória, aqueles que partiram continuam para sempre connosco e aqueles que chegam passam a estar gravados na nossa história e tornam-se parte da nossa identidade.
A Pilar este ano ficou responsável pelas frases do advento (temos um calendário, onde todos os dias está escrita uma tarefa que se enquadre na época). Para hoje, o calendário sugeria que escrevêssemos uma frase para colocar na árvore. Já lá estão duas:
“Gosto do Natal!”
“Gosto do Menino Jesus!”