12 de julho de 2012

Delírio de meia-idade


Amanhã é o meu aniversário! Estou oficialmente à meia-idade! Não vale a pena dizer que os quarenta, quarenta e picos, são os novos 30s e os 30s são os novos 20s, pois a única coisa que ainda não conseguimos driblar é algo que parece um dado adquirido mas que tem uma poesia intrínseca maravilhosa – a “esperança de vida”. Ora a esperança de vida média, para as mulheres, em Portugal, é de 82,2 anos (dados de 2011) o que quer dizer que, de acordo com as estatísticas, estou na meia-idade. Por isso lembrei-me de fazer, em canal aberto, o balanço de meia vida.
Uma personagem de Beckett no À Espera de Godot diz uma frase espantosa, pela sua simplicidade, How time flies when one is having fun, que traduz aquilo que sinto em relação à vida que os meus pais me deram e à viagem que comecei, na segunda-feira, dia 13 de Julho de 1970,às 8h05 da manhã. O que nos confere identidade é a memória e é graças ao poder de recordar que consigo elaborar este balanço. A memória é sempre mais permanente quando os acontecimentos são especialmente marcantes, positiva ou negativamente. Hoje, porque é dia de festa, celebro as coisas boas que a vida me trouxe:
·         Uns pais extraordinários que me deram asas para persistir e nunca desistir (acreditem que não é teimosia, nem obstinação, é mesmo persistência) e uma formação católica mais ou menos praticante, que me tem acompanhado pela vida, em todos os momentos;
·         Um marido fantástico com quem viajo no amor há 22 anos, umas vezes de avião, outras de carro, de comboio, de mota, de bicicleta ou a pé, umas vezes depressa, outras devagar, mas sempre em segurança;
·         Umas filhas muito procuradas que me entraram pela vida adentro, de rompante, quando menos esperava, e que me alteraram as entranhas (e claro que não falo apenas do pneu à volta da barriga nem da cicatriz das cesarianas…);
·         Uma família próxima que me deu raízes em vários pontos de Portugal e, depois, por afinidade, em vários pontos da Europa; Hoje lembro com saudade os meus avós que sempre se lembravam do meu dia de nascimento e do meu primo, com quem trocava mimos de aniversário e brindava com gin!
·         Uns amigos -ia escrever verdadeiros, mas lembrei-me que só há amizade com verdade- em quantidade acima da média das estatísticas, com quem partilho e celebro muitos momentos importantes. Eles são a família adotada e confesso que são tantos e tão bons (muitos com filhos que se tornaram “sobrinhos” e até afilhados) que, às vezes, penso que a quota da amizade está preenchida, pois é difícil encontrar momentos para estar com todos! Tenho comigo amigos desde bebé, amigos da escola, amigos da universidade, amigos de trabalho e amigos de amigos, que amigos se tornaram… Alguns estão espalhados pelo mundo e as redes sociais ajudam-nos a não perdermos o rasto e o contacto (e dito isto, lembro-me que muitos amigos não falam português e que, provavelmente, para este delírio de meia-idade chegar a todos eles, ainda terei de fazer uma tradução para Espanhol e para Inglês);
·         Um trabalho que me ensinou a reformular conhecimentos, a perceber que quanto mais avançamos maiores são as dúvidas e a responsabilidade e maior tem de ser a humildade para aprender de novo a conhecer e a fazer. Celebro ter tido a sorte de me cruzar com professores/mestres,  colegas e alunos que me ensinaram a questionar, investigar, reformular paradigmas e a aceitar que não podemos travar todas as batalhas mas podemos escolher as “guerras de ideias” em que queremos entrar e de que lado vamos estar.
Enfim, são 41 anos de vida que se completam, com amor, humor, junto de todos os que quero e me querem bem, em todas as disposições e em todas as estações do ano.
Ergo o meu copo “virtual” à saúde de todos os que passaram na minha vida, aos presentes e aos ausentes; cada um constitui uma tatuagem de identidade na minha memória!
Com a viagem a meio, deposito uma enorme esperança de vida na meia-idade que a estatística me diz que ainda tenho, pois sei que o futuro está cheio de sonhos por acontecer!