O Porto é uma cidade num país estrangeiro!
Isto, trocado por
miúdos, é o mesmo que dizer que o Porto é uma nação!
Há umas largas
semanas atrás, quando a hora ainda não tinha mudado, quebrei um jejum de 6
anos, não imposto, nem desejado, mas fruto das circunstâncias e dos caminhos
por que a vida nos leva, e voltei ao Porto!
Foi a primeira
vez que aterrei no aeroporto Francisco Sá Carneiro (a ironia de darem ao
aeroporto o nome de um político que morreu, num desastre de avião, a caminho do
Porto, ultrapassa-me, confesso) e apesar de não ter voado TAP - para grande
pena minha que gosto do produto nacional, com os melhores comandantes e assistentes
do universo (sim, sou suspeita, conheço alguns a quem tenho a honra de chamar
amigos) - o voo Low Cost Ryanair (9.99€ cada viagem, mais low que o comboio, ou
o carro) permitiu-me chegar ao Porto no sábado, às 8:30, e sair do Porto no
domingo às 21:40! Passo a semana em autocarros, comboios, carros e vespa, por
isso foi um alívio poder chegar num meio de transporte seguro e rápido e poder
passar 37 horas no “estrangeiro”, perdendo apenas 2 horas em transportes.
A ideia deste
regresso ao Porto surgiu em Julho, na sequência de um voucher de uma noite,
oferecido pelas nossas filhas. Ao ver as ofertas no catálogo, houve uma que me
chamou a atenção: a da Yours Guesthouse, mesmo ao pé dos Clérigos. Já tinha
visto umas fotos, sigo-os no instagram, e tudo me dizia que seria a melhor
opção. Apesar de já não aceitarem os ditos vouchers, os donos, pessoas afáveis,
civilizadas e muito atenciosas sendo simultaneamente cool, o que é uma harmonia
que muito prezo, já que muito afeto e cortesia também podem ser demasiado
constrangedores para Mouros pouco habituados à hospitalidade nortenha,
aceitaram a reserva e cederam-nos um dos seus estupendos 8 quartos, com terraço
privado e vista maravilhosa.
Eis-nos, pois,
chegados ao Porto, dia 29 de Outubro, com andantes a estrear, a caminho da
Guesthouse. E que maravilha chegar e ser tudo como nas fotos e ainda mais,
fruto de um Verão de São Martinho precoce que nos deu temperaturas de 27 graus,
a condizer com um céu azul luminoso.
A primeira
paragem na rota de fim de semana era a visita aos Miró. Tanto me queixei nas
redes sociais que não podiam ir a leilão, tanto assinei petições, que era o
mínimo a fazer; E com ou sem Miró, Serralves é sempre uma visita obrigatória,
pela colecção, pelas exposições, mas também pelo oxigénio que se respira nos
jardins.
E aqui abro novo parênteses para fazer promoção a outra empresa, não nacional, lamento, cujo
marketing me permitiu viajar com muito conforto, num veículo de gama e cilindrada
superior, conduzido impecavelmente pelo Sr. José. Graças ao código promocional
de um amigo, a Cabify ofereceu-me 8€ na viagem o que me permitiu ir de
motorista dos Aliados a Serralves a custo zero! (Se quiserem ter 8€, em Lisboa
ou no Porto, instalem a app Cabify e coloquem o código CARLAC519 que usufruem
desta quantia e oferecem-me, em simultâneo, 8€ de volta!).
10 da manhã…
Bilheteira de Serralves para comprar bilhetes para a exposição, 11€ por pessoa,
a não ser que tenham conta e cartão do BPI. Claro que tenho cartão do BPI e, às
10:10, dou comigo a pensar que esta visita ao Porto está a sair baratíssima.
Depois da soberba visita à exposição, sobre a qual já tanto se escreveu com
propriedade que apenas posso subscrever, depois de levantar o casaco deixado no
guarda-roupa que funciona na capela, passeei nos maravilhosos jardins e trouxe
de lembrança um ataque de alergias épico, mas a culpa é toda do Outono e da
mudança da hora que me desordenam os chakras, ou o bioritmo ou “o raio que o
parta que nunca mais chega o Verão!”, não do Jardim, nem da cidade!
O regresso foi a
pé pois no Porto quase tudo está a 600 metros, mesmo que seja a 600 mts vezes 3
ou 4 vezes: No sábado andei 18,4 kms a pé e ainda bem que o fiz, pois pude
digerir a sandes de pernil com queijo da serra da Casa Guedes (eu tenho uma
filha que não come carne, por isso foi um momento de compensação) e, acima de
tudo, pude perceber o quanto o Porto mudou; Mudou para o bem, com esplanadas,
com limpeza, com preservação do património histórico e saudável convivência
deste com a modernidade, mas também mudou para o menos bom, para quem lá vive,
sem viver do turismo, pois tornou-se um destino muito apelativo para
estrangeiros, com tuk-tuks e alguma gritaria e turbulência, decorrentes desse
forte apelo turístico. Eu também estava de estrangeira, por isso achei tudo
fantástico, até poder observar a pitoresca fila à porta da Lello, que vende
mais bilhetes de entrada do que livros!
O fim de tarde de
sábado estava reservado para assistir ao showcase do Samuel Úria na Fnac de
Santa Catarina, grátis, of course, e até já começa a parecer mal! Não era especialmente
fã do Samuel Úria mas depois de ouvir, ao vivo, a apresentação demorada (cantou
bem mais do que a meia dezena de temas, habituais nestas promoções em Fnac) do
Carga de Ombros, fiquei convertida e só posso recomendar que ouçam também!
A Título de
balancete: à hora do jantar ainda só tinha gasto uns Euros numas águas, num
éclair e café na Leitaria do Paço e na dita sandes de pernil, mais o cartão
andante pelo que, à noite, seguindo a sugestão de uma amiga nativa, fui jantar
ao Flow, na Cedofeita: Comida boa, não especialmente iluminada de
transcendência celeste para as papilas gustativas, mas num espaço de excepção e
com empregados afáveis. Sempre que vou ao Porto acho que as pessoas em geral e
as que nos atendem, em particular, são mais normais, menos atacadas pelo vírus
“ai eu sou chefe de sala/empregado num restaurante com pinta por isso posso ter
um ar arrogante de quem é dono disto”. Em Lisboa só costumo encontrar este tipo
de simpatia e cortesia sem preconceitos, na esfera de restaurantes com pinta,
nos espaços do Avillez.A noite de sábado
estava reservada para a Foz. De novo a pé, com passagem pelo Bom Sucesso e com
a alegria de constatar que o Porto continua a ser uma cidade segura para
deambular e que mantém um equilíbrio harmonioso entre o passado e o presente.
O Domingo foi
consagrado à margem Sul, a uma visita demorada às caves Taylor’s e a uma incursão
relâmpago nas Caves Ferreirinha. Sou adepta fervorosa dos tintos do Douro,
talvez com a mesma intensidade que um adepto do Porto ama o seu clube, pelo que
poderia passar vários dias a visitar e a conhecer a história de cada família. Escolhi
a Taylor’s pois a história desta família Inglesa é fascinante, mas fiquei com
pena de não ter tido tempo para conhecer igualmente as caves da Symington.
Imbatível a prova de portos acompanhados de trufas e frutos secos, com vista
deslumbrante para o Porto!
A tarde chegou
depressa com um encontro com um amigo que não abraçava há mais de uma década e
com uma ida à Casa da Música ouvir uma experiência a cargo dos Dias da Música Electroacústica,
a convite do Professor de Análise e Composição Musical da filha que nunca
provaria uma sandes de pernil, e com a participação da pianista Ana Telles, que
por coincidência, é minha colega em Évora.
Depois da
experiência inovadora e refrescante de estarmos numa bola de sons e imagens um
novo carro da Cabify levou-me de regresso ao aeroporto, inteiramente grátis,
uma vez mais, por causa dos códigos promocionais.
Como desabafo
último deixo-vos uma confissão junto ao Douro:
Se eu tivesse
nascido tripeira não saía da beira deste rio, deste vinho, deste Porto! Quero
ser adoptada! Quero ser amiga do Rui Moreira! Quero ter primos, tios e
sobrinhos no Porto! Quero ser do Boavista! Quero beber finos e cimbalinos!
Dear Porto, I’ll
be back!
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