26 de outubro de 2006

Bolos e Manolos!



Quem espreita este blog, de vez em quando, já deve ter percebido que sou fã de Sofia Coppola. Apesar disso, foi com um entusiasmo comedido que fui ver o Marie Antoinette. Não costumo apreciar incondicionalmente os chamados filmes de época, mas esta visão biográfica de alguns anos da vida da Rainha de França, feita a partir de um livro escrito pela Antonia Fraser que, além de ser uma óptima historiadora, é casada com Harold Pinter (o Nobel da Literatura do ano passado) à mistura com uma banda sonora pop rock e footage exclusiva do Palácio e dos Jardins de Versailles (que estão a usar a exorbitância paga pelos Coppola para fazer obras de conservação e assim calar franceses mais cépticos que não vão em americanices) foram mais do que argumentos suficientes para enfrentar a Unidade de Cuidados Intensivos do El Corte Inglés, a um Sábado à noite.
Se o tópico e a época são absolutamente distintos dos filmes anteriores, o olhar contemplativo da câmara mantém-se. O importante não é tanto contar uma história, antes vê-la ser desfiada, sem pressas, ante os nossos olhos. Mesmo quando o ritmo e a banda sonora são alucinantes, para retratar os excessos da vida na corte, em termos de enredo e de progressão nada se passa: Comem-se mais uns doces, experimentam-se mais uns vestidos, bebe-se mais uma taça de champagne... E é isso que eu gosto na Sofia Coppola: o facto de não ter de se passar nada de especial para nos prender a atenção.
Se em Virgins Suicides o excesso era a morte trágica das filhas do casal Lisbon e em Lost in Translation, a vertiginosa Tóquio fazia o contraponto emocional da paralisia forçada das personagens acorrentadas ao desencanto, Marie Antoinette é o excesso de tudo, sem tragédia, apenas a imagem final de uma rainha silenciosa - e silenciada pela revolta popular - que se despede, pela última vez, das árvores do Jardins de Versailles.
É isso e bolos: os confeccionados pela parisiense La Maison Ladurée e a comida concebida por um chef especialista em comida do Século XVIII.
É isso e sapatos: belíssimos - apenas "interrompidos" num breve plano, por um par de All Star - criados propositadamente por Manolo Blahnik que encontrou sedas e materiais semelhantes aos usados no Século XVIII e os tingiu de rosa, verde e azul pálido.
E, já agora, o guarda-roupa criado por Milena Canonero (premiada com dois óscares e, seguramente, à espera do terceiro) que só para a magnífica Kirsten Dunst concebeu 95 vestidos.
E, para terminar, as jóias de assinatura Dior.
Marie Antoinette foi guilhotinada, sem jóias ao pescoço, aos 37 anos;
Sofia Coppola tem 35.
É a idade perfeita para menos bolos e mais Manolos!

1 comentário:

Sérgio Mak disse...

Embora tenha gostado dos dois primeiros e apesar de toda a doçaria deveras atractiva, este filme deixou-me um certo amargo de boca.
Primeiro porque os desenhar os contornos de tornar a Antonieta em estrela pop, com a vida de glamour e ócio, banda sonora e afins, a contrastar com o filme de época não me acrescenta muito, ao passo que por exemplo no Lost in Translation, a mesma inércia da acção ia contrastar com o ambiente e havia ainda um fio da história que íamos descobrindo...
Aqui parece apenas um estampar de um estilo de realização a uma história, que quem conhece minimamente nem sequer encontra muita coisa por descobrir...
Mas enfim, não é uma nódoa, mas não também não é de perder a cabeça...