Cá por casa o Presépio minimal convive com o excesso figurativo do Presépio made in Perú e ambos convivem com garrafas de gin e vodka transformadas em iluminação e com uma coroa do Advento, este ano feita de rolhas, alecrim e canela; A árvore artificial, que imita um belíssimo abeto nórdico, tem demasiadas decorações, mas tem bolas e bonecos muito irreverentes do Nightmare Before Christmas, com o Jack a abraçar a estrela no topo da árvore e, como alguns de nós são minimais, também temos uma árvore de madeira DIY só com iluminação. Cá por casa, os doces tradicionais portugueses convivem com o Xmas Cake, made in UK, e os pasteles de yema, turrones e afins, made in España. Come-se bacalhau, polvo, mas também cabrito, borrego, ou perú e temos uma pescetariana que repudia a carne, mas que gosta de caril de gambas e Ferrero Rocher, o que dá um toque vintage à sua adolescência e um certo cosmopolitismo à nossa quadra suburbana!
Não temos calendários do advento, já tivemos (com doces e também com tarefas de bondade), no tempo em que havia mais tempo, mas temos calendário de festas, pois os músicos residentes têm sempre muitas solicitações, nesta quadra!
Na família somos menos à mesa, mas celebramos sempre todos os ausentes que trazemos vestidos de festa na memória! Fazemos muitos natais, de amigos e de família e, embora o clima seja de descontração, admitimos que haverá sempre momentos de alguma tensão; aprendi que o álcool, servido ou consumido atempadamente, com moderação, torna os olhares dos anfitriões e dos convidados mais benignos e felizes, por isso aposto sempre nos Xmas cocktails, mesmo em versões não alcoólicas!
O que me cansa no Natal são os presentes: a eterna luta que quase arrasa o espírito da quadra católica (um bebé que nasceu num estábulo, na maior pobreza, para ser o Salvador) de quem tem de fazer compras sem ser Rei, nem Mago, sem ser rico, nem adivinho!
O Natal dos adultos acaba por se transformar em inúmeras listas preliminares, de comida, bebida, presentes... mas depois, à medida que o Natal vai acontecendo, tudo se encaixa e, no ano seguinte, lá regressamos para mais um round!
O pior do Natal é a desigualdade, o saber que há guerra, pessoas sem abrigo, sem amor e sem saúde! Fazemos o que achamos razoável, cada um abraçando as causas que lhe são mais próximas ao coração e, acima de tudo, tentamos fazer de conta de que é suficiente, para podermos ter um Natal livre de culpa!
E é isto: cá por casa o Natal é tempo de nos enfeitarmos com gratidão, emoção, generosidade, recordações e amor, regado com cocktails e acompanhado por filmes, séries, leituras, mantas e uma banda sonora, que vai do Frank Sinatra ao Bublé, sem esquecer os Wham, ou outras pérolas dos anos 80, e improvisos ao piano, à guitarra, ou à viola!
Já não tenho magia para acreditar que todos os dias podemos chegar ao Natal, mas tenho serenidade para aproveitar a quadra enquanto dura!