Happy Valentine’s Day ou Os Fantasmas de Valentins Passados
Há dias assim, que por culpa da tradição e do santo consumo, pega-se na
religião e justifica-se o voraz apetite por gastar euros com o cumprir do calendário!
Ainda bem que há Benfica, ainda bem que amanhã a culpa dos restaurantes não
se entupirem de gente para degustar comida pseudo-moderna em doses diminutas, é
do Benfica! Venham as bifanas gordurosas e as imperiais geladas, cheias de amor
pelo próximo, desde que os alemães percam!
Eu cá gosto de celebrar, tudo e mais alguma coisa, enquanto a memória não
me atraiçoar, por isso já embarquei no conto do São Valentim algumas vezes,
outras nem tanto… Depende do que dá jeito: quando as miúdas eram pequenas fazia
comida em forma de coração e elas chegavam felizes pois havia sempre um professor
de Inglês que estimulava a troca de Valentine cards e como elas eram populares arrebanhavam
uns quantos e era uma festa; sim e eu sei que isto dos Valentine cards é para
os miúdos praticarem o inglês e tal, mas a verdade é que há miúdos que escrevem
o dito cartão e não recebem e isso é tramado, é uma forma de começarem cedo a perceber
o seu valor na bolsa dos afectos e a escola a cumprir metas para lá do programa
educativo, ensinando a gerir a autoestima, sejam as expectativas altas ou mais
subterrâneas.
Voltando a dias dos namorados, lembro-me sempre de um excerto de um texto
da Luísa Costa Gomes em que um casal comemora o seu aniversário de décadas e,
sentados à mesa do restaurante, vão pedindo comida, sem olhar muito a gastos
porque “festa é festa!”. Estou certa que amanhã, aparecerão no meu feed das redes
sociais fotos de pessoas felizes a celebrarem o santinho o que prova que as
redes sociais estão nos antípodas da Literatura e que apenas se dedicam aos amores
sem história, os felizes! Que bom seria se pudéssemos de forma descomplexada partilhar
na cronologia os fantasmas dos namorados/ maridos/ companheiros do passado, sem
termos medo de relembrar episódios menos felizes! Um grande cemitério virtual
das relações passadas em que, por exemplo, o timeline do facebook não
assinalasse só os casamentos e os noivados mas criasse um marco para as
separações, não apenas uma menção relativa à mudança de estado civil. Apagar o passado
é tentar reescrever a história e não vale a pena, pois a história tende a
repetir-se!
Neste dia de São Valentim com ou sem culpa do Benfica, mas lembrando que o
encarnado é a cor do amor e do coração, embora julgue que seja mentira, pois
ainda na semana passada vi a minha filha mais nova com um coração de porco
recém-morto e era bem azul, vamos jogar mais ao ataque e menos à defesa, pois neste
dia o cartão encarnado é aceitável, vamos deixar de culpar o árbitro e vamos
encher os restaurantes para comer o pão que o Cupido amassou, vamos abraçar os francesismos,
os cremes, camas e infusões, destilando olhares cúmplices para os telemóveis,
para nos assegurarmos que o amor do vizinho não é melhor do que o nosso! Se
isso não resultar, vejam o novo filme da trilogia das 50 Shades e acreditem no
poder da imitação, já que umas palmadas qualquer um consegue dar, ou receber, ao
passo que uns passeios em jactos privados é mais coisa para o outro Christian,
o Ronaldo!